domingo, 10 de julho de 2011

Sobre perda (A Alegria de viver)


                Este pequeno (vá, nada de risadas) texto poderia ter, também, o título de “Falsos Pressupostos. Num país que se presume que mais de metade população saiba ler mas que prefere ver futebol, novelas e reality shows, do que ler um livro, um falso pressuposto seria presumir que o tamanho do texto é argumento. Ainda por cima o futebol poderia ser uma grande evento desportivo e é um mar de corrupção, as novelas são quase sempre mais do mesmo e os reality shows são uma real porcaria E podem perguntar ao Duque de Bragança, a porcaria real dele cheira tão mal como a dos outros e, por incrível que pareça, NÃO É AZUL! Passando à frente.
                Todos nós temos opiniões, todos nós pensamos e reflectimos. De entre as infindáveis profundezas do pensamento humano surgem pressupostos, uma ideia pré-estabelecida sobre um assunto qualquer, sobre alguém, sobre alguma coisa. Um dos mais frequentes “poisos” do falso pressuposto acontece exactamente nas relações interpessoais, e quanto mais próximas, maior a frequência.
                Nas amizades que eu formo e celebro (amigos são a família que nós escolhemos) há normalmente 3 pressupostos que eu assumo, que são:
1.       Que eu posso confiar nos meus amigos e eles podem confiar em mim;
2.       Que, caso alguma questãosurja que possa ser motivo de essa amizade terminar, os meus amigos a debatam comigo e vice-versa;
3.       Que, na eventualidade, de ser erro, acção e/ou omissão minha que me dêem o benefício da dúvida e me permitam dialogar nem que seja uma última vez;
Quando uma amizade acaba sem passar por esses 3 pressupostos eu entendo que amizade nunca existiu e que, em vez disso, existia algum interesse encoberto ou simples falsidade das pessoas. Ora, eu tenho 1001 defeitos e pelo menos outras tantas características de personalidade que não agradam a todos. Mas um desses traços não é ser falso. Sou uma pessoa franca e frontal. Algumas pessoas diriam mesmo que sou insensível e politicamente incorrecto. Neste caso, perder um amigo (ou uma família inteira deles) seria algo que me deixaria de certa forma, feliz, alegre. Dado que sou uma pessoa que prefere a lógica fria e a dedução, ao invés de emoções mal direccionadas, quando isto acontece (e dado que sou comunicativo não é assim tão raro), eu só saio mais fortalecido.
Em questões amorosas sucede exactamente a mesma coisa. Eu quando me apaixono (o que, dado ser um eterno crente no Amor, também é frequente), é a doer. E, se em novo estava preocupado em sair magoado, isso agora não acontece. Dêmos graças por, no nosso cérebro, a lógica ser imperatriz. Eu explico. Se numa amizade existem falsos pressupostos, numa relação amorosa eles são em maior número e infinitamente mais profundos e complexos. Muitas pessoas se queixam que se “entregaram de todo o coração” e “de corpo e alma” e que saíram magoadas e que essas mágoas ficam para sempre, são um veneno nas relações seguintes ou, pior ainda, que impedem relações futuras. Mas que belo e fumegante monte de porcaria que isto é! Eu acho isto tão absurdo como acreditar num deus qualquer e olhar para os 2 lados antes de atravessar a rua. Acontece, em muitas relações, que as duas pessoas (vamos presumir que são duas) não se amam da mesma forma e/ou na mesma quantidade (eu sei bem que o amor não pode ser quantificado, mas se alguém não perceber o que eu quis dizer agradeço que fechem a página e não voltem). As pessoas podem gostar uma da outra mas valorizar coisas diferentes no parceiro. Não vou debater valores nem dar exemplos, se sabemos ler também sabemos pensar. Eu orgulho-me de ter boas relações com a maioria das ex-namoradas (não que tenham sido muitas) e é algo que não é frequente. A maioria das pessoas “sai magoada”, o seu desejo “é não ver” a pessoa nunca mais, etc. Mais uma vez eu acho isso ridículo. A não ser que as pessoas tenham passado por cima da amizade para chegarem (apressados) ao amor e à paixão, não tem qualquer sentido as pessoas se afastarem como inimigos ou estranhos. A existência de falsos pressupostos também dá um ar de sua graça aqui. A maioria das pessoas presume que “Amor é para sempre”. A maioria das pessoas presume que pode existir amor sem amizade. Eu digo, amor sem amizade é como tentar cagar e não mijar! Já tentaram? Então sabem do que falo… Se nunca tentaram tentem! Criam-se falsos pressupostos quando um casal não tem respeito pela outra pessoa, um tipo de respeito que apenas grandes amigos e confidentes podem ter. O respeito pelo próximo para mim é uma simples questão de equilíbrio com a Natureza. Todos os animais têm imenso respeito pelos outros e pelo ecossistema e é algo tão instintivo que, sendo o ser humano, supostamente, a espécie mais complexa e evoluída do planeta, parece-me incrível que tenhamos perdido o respeito uns pelos outros e pelo que nos rodeia. Passamos a vida a julgar os outros e ainda nos achamos merecedores de riqueza e sucesso (rótulos para os quais eu desconheço significado e até mesmo significância). Criam-se falsos pressupostos quando, havendo respeito, falta comunicação. Que raio de vida pode ter um casal que não debate, não discute e até mesmo (porque não?) se irrita com o parceiro? As grandes lições da minha vida surgiram de belos debates, de valentes discussões e por diversas vezes, de coisas que disse e ouvi, ditas na fúria do momento. E para os que ficaram chocados, para que raio se inventou o pedido de desculpa se não foi para admitirmos as nossas próprias falhas? E o perdão teria que propósito então? À mínima questão, à mais insignificante gota de discórdia, desatávamos a atirar bombas para o parceiro? Faz sentido para alguém? Guerra aberta porque ele não baixou o tampo da sanita ou porque ela perdeu duas horas para se arranjar e chegaram atrasados? Acham isto lógico? Debate-se, discute-se e tenta-se encontrar um consenso. Quem sabe a relação não sai fortalecida. Já pensaram nisso? Uma discussão, por muito séria e ríspida que seja e ainda que sejam ditas algumas coisas mal pensadas não é, de modo algum, significado de que o já referido respeito não existe. Eu discuto imenso com toda a gente e não os respeito menos por causa disso. De certa forma eu até admiro quem me faz frente e me faz ver as coisas de outro modo. Passo do respeito solene à admiração numa frase, num argumento bem colocado.
Estou sozinho há quase 3 anos e posso mesmo considerar-me uma pessoa feliz. Nas minhas relações dei tudo de mim e em nenhuma me arrependo de o ter feito. Os fins de namoro deram quase sempre novos frutos de madura e saborosa amizade. Se as pessoas com quem estive, em algum momento, não deram tudo de si não me preocupa. Não presumo que toda a gente seja como eu. Esse seria o maior falso pressuposto de todos! Amor sem mágoa não existe, como não existe prazer sem culpa. Se assim fosse o prazer não seria prazer nenhum e o amor não teria valor. Às pessoas cuja mágoa do amor é eterna e avassaladora: sejam valentes! Ninguém gosta de covardes! E isto eu não presumo, é a realidade!

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