Há 35 anos atrás
Numa telefonia ranhosa
Uma canção proibida
E a tropa revoltosa
Clamavam por alto valor
Bem adentro da cidade
Proclamavam com fervor
Que iria haver Liberdade…
35 anos passaram
Em puro descontentamento
Foi só p’ra as contas de alguns
Que houve desenvolvimento
Ministros e directores
Deputados e presidentes
Numa dança se seguiram
Entre duas cores diferentes
Como gaiatos da escola
Que se desculpam em vão
Uns aos outros eles se culpam
Do estado da nação
(Não me venham com cantigas
Em ano de eleição
Se o povo ‘inda acredita
Este povo é parvalhão!
Mas meu voto eles não levam
Que eu não acredito, não!...)
E hoje, nos tempos que correm,
Ainda que digam o contrário,
É a mesma ditadura
Guardadinha num velho armário
Que com novas vestes se traja
P’ra que não haja suspeita
Autonomia – que a não haja
E o povo ‘inda diz “bem feita!”
Que em plena altura de crise
E o povo em dificuldade,
Que não se una este povo,
Pensando que tem liberdade!
Dê-se ao povo alguma coisa
Que ele pague sem saber
Que não passe da cepa-torta
Que a liberdade seja morta
Que não haja o que comer!
Que o povo se una somente
Quando houver futebol
Ou quando houver bom tempo
E os aglomerados de gente
Se encontrem nas praias ao sol!
Que pensem que sim, que são livres
E se festeje este dia
Com cravos vermelhos, foguetes
E a crise do dia-a-dia!
Santa crise omnipresente!
Com ar despreocupado
Canto a crise docemente
Num canto inacabado…
A culpa nunca pode ser a crise
Num mundo onde não há paz
Não é da crise esta culpa
É sempre de quem a faz!
E quem a faz
São sempre os mesmos
Os das contas recheadas
Que com o povo não se importam
Com nossas vidas malfadadas
Com nossa contrariada obediência
Que nos impõem na mente
Não se iludam, camaradas
O povo está descontente!
Quando há fome verdadeira
E se encurta a finança
E p’ra pagar contas não chega
O ordenado não alcança
O carcanhol necessário
P’ra criar uma criança
O povo desencantado
Deprime-se e perde a esperança…
Liberdade é coisa que não há
Neste país à beira-mar (im)plantado
Onde a crise é que governa
E o TGV desejado
Por megalómana cabeça
Do homenzinho do topo
Ah! Quem me dera ser a brisa
E ele uma leve folha
Que se afasta só com um sopro!
(Lá se ia o TGV mais o homenzinho do topo…)
Mentiras e aldrabices
São especialidade sua
No lugar dele eu teria
Vergonha de ir à rua
Onde o povo me visse
E apupasse
E tomate me atirasse
E ovos podres e tudo
Se eu fosse tal criatura
Guardiã da ditadura
Saía à rua mascarado
E somente no Entrudo!
E os homenzinhos iguais
Criaturas que o estado forja
São homenzinhos que tais,
São corja da mesma corja
Tivessem vergonha eles também!
Se suicidassem em massa
P’ra regressar ao além!
Ah! A vida seria tão bonita!
Aí sim, seria revolução total
Uma revolução sem fim
À escala mundial
Venham cravos vermelhos
E rosas, venham todas as flores!
Venham tsunamis e bombas,
Venham ETs às cores!
Ponham fim a estes senhores
De pensamento tão tosco!
Acabem com esta gente
Antes que acabem connosco!
Aflupina Aloba
(uma grande amiga minha)
2009-04-25
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