Apenas duas coisas estão garantidas nesta vida – a Morte e os impostos. Um é também apelidado de “o equalitário”, o grande portento de justiça e igualdade que muitos de nós procuram e sonham, como se de uma mítica Fonte da Juventude se tratasse. E a quem pensou que me estava a referir aos impostos agradeço que pare de ler este blogue, pegue numa corda bem resistente e se pendure pelo pescoço na viga mais forte que encontrar (pontes antigas seria a minha sugestão) depois de se auto-flagelar nas partes íntimas com um rolo de arame farpado. Obrigado.
Tudo o resto que possamos achar que merecemos é pura filosofia, pura gabarolice. Mas pensemos: nascemos nus, carecas e sem dentes… tudo o que recebermos a partir daí é lucro. Algumas pessoas (seria mais correcto dizer todas menos eu) acham que não é bem assim. Umas dispensariam o sofrimento e a dor. Outras desejariam que lhes fosse dado um dia de 47 horas e 13 minutos em vez de umas ridículas 23 horas e 56 minutos por jornada dado que nunca têm tempo para nada e andam sempre a correr de um lado para o outro. Às pessoas que não têm tempo… problema vosso! Escolhessem outro tipo de vida! Mas às pessoas que se recusam a sofrer (não que isso mude seja o que for mas só o facto de o desejarem é pura falta de inteligência) pergunto: como se daria valor ao amor… se ele não contivesse por cada “grama” de alegria uma lágrima?
Há muitos anos visitei uma fábrica de tintas. Durante essa visita (que eu odiei, por causa das supostas “curtes” no banco de trás da camioneta para as quais eu nunca fui convidado) foi-nos mostrado como as referidas tintas eram feitas. Não vou entrar em pormenores de química mas vimos várias cores de tinta a serem produzidas e, qual não é o meu espanto, vejo um senhor despejar um líquido negro no branco mais branco que vocês possam imaginar. Mais tarde, já eu estava no secundário, em informática, estamos a ver pixéis de imagens e, como se fosse o puto invejoso das brincadeiras no banco de trás da camioneta, me vejo de novo em espanto puro – no meio do branco vejo pixéis de preto. O tempo passa (tempus fugit) e o cérebro (que é o único “músculo” que eu exercito diariamente) cresceu e modificou-se. Os orientais é que a sabem toda. Ying e Yang. Não pode existir luz sem trevas nem trevas sem luz (excepto nos livros de Terry Pratchett). Há já uns anos que abraço toda a dor que sinto como se um amigo há muito ausente se tratasse. Já passaram muitos anos desde o puto invejoso e eu abandonei toda e qualquer forma de ciúme e/ou inveja. Mas tenho dias maus, dias que simplesmente isto que escrevo é a mais pura treta, tão descabida como qualquer anúncio de “austeridade” proferido pelos eternos falhados que governam este mundo e que não sabem nem governar o seu próprio lar. Mas a maioria dos dias, aceito o bom com o mau.
Aceitar a dor tem destas coisas. Perdemos de vista aquilo que achamos que merecemos e no mesmo instante, agradecemos do fundo do coração o que temos e sentimo-nos mais leves dessa forma. Mas que ninguém pense que é um prazer sem culpa – tal coisa não existe. Ficamos tristes por quem tem menos que nós e por quem ainda não aceitou a sua dor, quem não fez dela sua confidente. Sabem o que acontece quando batemos no fundo do poço da dor e do sofrimento? Só vemos luz. Quando tudo que havia a perder foi perdido é como ser recém-nascido, é tudo lucro a partir daí.
Agradeço pois então a toda a gente que me fez sofrer. Agradeço porque só fizeram de mim uma pessoa mais forte e mais rápida e mais capaz. Bem hajam.
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