quarta-feira, 20 de abril de 2011

Um Grão de Areia

1%. Não, não é um erro. Eu comecei este texto com a "frase" "1%". Segundos alguns estudos e por tudo aquilo que eu tenho visto, vejo e ainda vou ver, 1% da população mais rica do mundo detém, controla ou reserva 40% dos recursos deste planeta. O que quer dizer, em números mais realistas, que uns milhões de pessoas amealharam mais do que a sua fatia daquilo que o planeta nos dá a todos. Não tenho muito a dizer sobre isso já que, se eu quiser descobrir em quem pôr a culpa, basta olhar-me num espelho, assim como todos nós podem fazer o mesmo.

Pensemos um pouco em areia. Ela encontra-se nos mais variados sítios (alguns de nós podem mesmo dizer que alguns cérebros a comandar o País estarão cheios dela, de tal forma que células cerebrais são uma espécie em extinção por essas partes), e em quantidades que nos parece serem reduzidas quando, num dia quente de Verão nos encontramos na praia e levamos com uma bolada ou, pior ainda, não temos onde colocar a toalha. Mas vamos mais fundo nesta questão, vamos pensar antes em grãos de areia. Pensem na vossa praia favorita, ou pelo menos, naquela que frequentam (nem que seja numa esplanada apenas a olhar para a areia). Já imaginaram se todos nós, por uns minutos nos dedicássemos a tentar pegar naquela areia toda? Acham possível que, se cada um de nós pegasse em duas mãos cheias de areia, durante um par de minutos que deixaria de haver areia no mundo?

Voltemos atrás um pouco e em vez de areia pensem em vocês próprios. Como é possível que 1% da população mais rica consiga segurar cada um de nós nas suas mãos, tais como grãos de areia? Acham isso possível? Claro que não. Mas é o que acontece, é o que vemos e é o que sentimos. Quando enchemos as mãos de areia algo muito vulgarmente acontece. Ela começa a fugir por entre os dedos e, quanto mais apertámos e tentamos segurar, mais depressa ela se escapa. Pois então, se é assim e se, cada um de nós, não mais é senão um grão de areia... COMO É QUE RAIO UM PORCENTO DA POPULAÇÃO MAIS RICA NOS SEGURA NAS SUAS MÃOS?!?!

Passo a explicar como tal é feito e de uma forma quase laboratorial. Imaginem-se agora (hoje é dia de fantasia, não se esqueçam de o passar aos namorados/as, maridos e esposas e aproveitem esta minha deixa para uma noite de deliciosa escapadela à realidade) como cientistas a elaborar uma experiência para comprovar uma teoria.

    * Objectivo: capturar cada grão de areia nas mãos, de tal forma, a que nenhum se escape.
    * Método: nenhum outro método resulta que não aquele que nos cola às mãos desses senhores e senhoras - Medo. Iremos passar medo a cada um dos grãos de areia de saírem das nossas mãos.
    * Resultado: em breve nenhum grão de areia neste mundo irá querer sair das nossas mãos e, assim, ficarão à nossa mercê.

É ficção científica dirão vocês. É impossível! "Este gajo é maluco!!". Concordo plenamente, tanto com o eu ser maluco, como com isso ser impossível. Então eu pergunto de novo: COMO É QUE RAIO UM PORCENTO DA POPULAÇÃO MAIS RICA NOS SEGURA NAS SUAS MÃOS?!?!
O medo é uma maravilhosa ferramenta da natureza. Todas as criaturas sentem medo. Alguns cientistas afirmam que até as plantas sentem medo e libertam certos químicos quando se sentem ameaçadas e conduziram estudos a provar isso mesmo. Mas o ser humano levou o medo mais adiante. Somos capazes de uma tal capacidade de tornar o lógico (sentir medo) completamente ilógico (sentir medo de sentir medo) que o tornamos algo paralisante, quando, na natureza, nunca o é. Que me perdoem os celebrados escritores por esse mundo fora pela repetição, mas aqui tornou-se necessária para demonstrar a irracionalidade que nos priva de uma vida mais repleta, mais preenchida, mais feliz, em suma, uma vida mais vida. D. H. Lawrence tem uma frase ( ou duas para ser mais exacto) que ilustram como esse sentimento é irracional: “I never saw a wild thing feeling sorry for itself. A small bird will fall dead from a bough without ever feeling sorry for itself.” Traduzindo: “Eu nunca vi uma coisa selvagem sentir pena dela própria. Um pequeno pássaro irá cair morto de um ramo sem nunca ter sentido pena dele próprio”. Mais nenhum ser vivo tem pena dele próprio. Um elefante pode chorar a morte de um companheiro às mãos de um caçador furtivo, mas o que foi morto nunca sente pena dele próprio por ter morrido. É este bocado de nós que permite que sintamos medo do medo. O medo aguça os sentidos e acelera as reacções. Modifica a maneira como processamos dados, de forma a permitir o reflexo “luta ou foge”. E que raio de predador, que está no topo da cadeira alimentar, iria fugir? Somos a única espécie que consegue viver, sem grandes ajustes evolutivos, desde os pólos até desertos, passando por montanhas e pântanos. De que temos tanto medo então? Sentimos medo de tudo o que fuja à rotina. Sentimos medo daquilo que vemos na TV e nos jornais e damos graças por aquilo que temos. Está errado! Estamos a cair na maior vigarice da história da raça humana. Vivemos num planeta repleto de recursos basicamente infinitos, aliás, recursos cuja utilização regulada nos permitiria viver para muito além do tempo de vida do nosso sistema solar. E a tecnologia continuaria a avançar exponencialmente nesse período, permitindo de certeza a colonização de outros sistemas, garantindo assim a continuidade da raça humana. Mas existe essa "elite" de pessoas que não querem que os recursos sejam partilhados por todos porque isso seria o fim de uma vida de luxo e desperdício, seria um evento catastrófico a nível da imagem  que essa cambada de imbecis têm deles próprios, mostrando ao mundo a extensão da sua mediocridade. Eu penso que só mostramos se somos os melhores se realmente, com os mesmos recursos, fazemos mais obra. E se os recursos fossem distribuídos de forma o mais igualitária possível teríamos mais gente a fazer obra. Se duas cabeças pensam melhor que uma... qual seria o resultado de todas as cabeças a trabalhar? O meu país está numa situação onde os idosos são obrigados a trabalhar cada vez mais anos para merecer o seu repouso, enquanto os jovens caem no desemprego e na inacção. Isso corrói o seu espírito até ao centro, reduzindo-os a uma "geração rasca", incapaz de pensar e formar novas ideias.  Todos nós sabemos que, se a idade traz sabedoria, a idade também traz esgotamento mental. Temos de regressar ao tempo dos mestres e aprendizes, uma ideia genial dos nossos antepassados, com um pequeno "twist" de uma era moderna: tem de haver respeito mútuo entre mestre a aprendiz, o mestre tem de querer que o seu aprendiz seja melhor que ele e o aprendiz tem de aprender tudo o que puder com o mestre dele e todos aqueles que conseguir encontrar. Temos de nos unir mais uma vez e mostrar os dentes a essa "elite". Acabar com o medo. Acabar com o amealhar de recursos, onde uns desperdiçam e outros não têm para viver. Estamos nas mãos uns dos outros, somos um único ser, e não escravos desses 1%!
Eu não sinto mais medo dessa gente. Não irei sentir mais medo deles, não me permitirei. Tive medo e a minha reacção a esse medo é luta. Eu sou um grão de areia e como eu, há montes! Vocês, 1%, nunca mais irão controlar-me, não conseguem segurar-me por muito que apertem. Lutemos, minhas gentes, enfrentem os medos e unam-se que eles não podem segurar-nos!!! ZEITGEIST!!!!

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