sexta-feira, 15 de abril de 2011

Sobre relações (leia-se também ralações)

     Eu não propriamente sábio, mas considero-me uma pessoa inteligente, razoavelmente informada e experiente para além dos meus anos de vida. Não quero com isto dizer que passo os meus dias a experimentar coisas novas. Pelo contrário, gosto de testar os limites daquilo que já sei o suficiente para me "enterrar" ou evoluir. Daí ter começado este blog, que esperançosamente, ninguém vai levar demasiado a sério. A minha professora de português do 5º ano (como eu gostava que ela viesse a ler o que aqui escrevo) dizia que eu tinha algum talento para a escrita. Espero que ele se revele aqui e espero também não desiludir essa minha professora que me deixou tão boas recordações. Para que se saiba eu frequentei a escola Leonardo Coimbra (filho), no Porto, mais precisamente em Serralves, entre 1990 e 1992 (5º e 6º ano, respectivamente) e do nome dessa grande professora só recordo que era Ivone. Espero que estas palavras a encontrem.
     Passando ao que realmente vim aqui fazer (engraçado como a World Wide Web tem esta sensação de deslocação espacial quando na verdade ela não acontece). Sempre considerei que, se algo há a fazer para salvar este mundo, esse caminho será o amor. Nada mais revela o nosso potencial ilimitado como o amor. Toda a gente já leu, viu, ouviu e até sentiu aquilo que o amor consegue fazer. Mas algo assombra essa nossa capacidade de amar. A nossa eterna e infrutífera busca por individualidade está a acabar com a nossa raça, a reduzir o nosso potencial a pó, como fogo numa mata antiga. Queremos ser originais e mesmo assim ter atenção, queremos dar origens a modas e não queremos que ninguém nos imite ao mesmo tempo. A raça humana é uma raça de paradoxos, já se sabe. Mas como alguns se recordam, em Lost -Perdidos, alguém lá dizia "Se não aprendermos a viver todos juntos, vamos morrer todos sozinhos". O nosso caminho está em eliminarmos do nosso espírito tudo aquilo que nos separa e que passemos a investir naquilo que nos une.
      Falar é fácil e escrever parece mais fácil ainda, dirão alguns. Às vezes coisas escapam do nosso controle nas relações e damos por nós de alguma forma isolados de quem nos rodeia. Desde amigos a vizinhos, passando por qualquer desalojado a viver na rua, encontramos-nos desligados. Contra mim falo que dou por mim a falar sozinho mais vezes do que desejaria e muitas mais do que será considerado saudável. Não é fácil manter relações, daí o título deste artigo. Às vezes manter uma relação é uma ralação e muitos de nós já têm mais do que suficiente disso para se estarem a preocupar com manter ligações com qualquer palerma que o rodeia. Somos um povo orgulhoso, somos ao mesmo tempo tão fortes e tão fracos. Somos tudo menos perfeitos. Mas aqui é que reside a nossa força: temos a percepção daquilo que nos falta para sermos melhores. Não fazemos muito uso dessa força, não vemos sequer o que essa força é, a maior parte do tempo.
     Pensemos na classe política por exemplo e deixemos também fronteiras de lado, já agora. Globalização é a chave, não é? São as pessoas mais desligadas de todas, até da própria família. Esqueçam imagens dos presidentes americanos que se fazem sempre acompanhar das famílias "Kodak". Eu posso fazer-me acompanhar de Playmates todo o ano e isso não fará de mim o Hugh Hefner, correcto? Há excepções, claro! Mas que mais é uma excepção, do que uma confirmação daquilo que é uma regra? Este tipo de pessoas são, logo à partida, mais do que nós, superiores. E eu digo são porque é aquilo que elas pensam e acreditam tanto nisso, com tanta convicção, que isso define a realidade em que vivem. Para essa classe (ou a falta dela, na minha opinião) existem poucos limites morais e cada ser humano só conta para eles, na medida em que um número conta numa equação. Somos percentagens, somos milhares e milhões, somos cidadãos e somos portugueses, alemães, ingleses, etc. Sabem o que nunca somos? Indivíduos. Ouvem esse barulho? É a vossa individualidade a ir pelos ares como uma cabana na Nigéria atingida por uma granada. Canso-me. Estou exausto de fazer esforço para ser eu próprio. Estou cansado porque, ao fim de 30 anos de vida, continuo a ser humano, continuo a ser uma gota de água num oceano.
     Tsunami. Maremoto. Terramoto em pleno oceano. Todos nós ouvimos e lemos sobre aquilo que uns segundos de água a correr conseguem fazer (desfazer seria a palavra correcta aqui). Reduzir o Sri Lanka a escombros, desligar uma central nuclear e tornar outras pelo mundo fora obsoletas. Espalhar os efeitos de uma calamidade local pelo mundo fora. E tudo isto em segundos! Porque raios perseguimos nós, em vão diga-se, a tão comprovadamente desnecessária, individualidade? Analisem o que sentem e digam-me: Estar sozinhos melhorou alguma coisa em cada um de vocês? Ser o melhor nadador olímpico apenas nos separa de todos os outros. Já agora: se cada um de nós é uma gota de água, o que somos todos juntos? Leiam de novo o início do parágrafo por favor. Leiam e pensem. Acabemos com a individualidade antes que ela acabe connosco.

1 comentário:

  1. Você escreve muito bem, poderia fazer parte de uma coluna social de um jornal!!!

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