sábado, 21 de janeiro de 2012

O Poder da Criação reside dentro de nós


            Tenho ouvido falar muito e muito também se tem escrito acerca da Criação. O Antigo Testamento começa inicialmente por descrever o acto da Criação do Universo, através de umas curiosas “metáforas” onde uma “criatura celestial” tem o poder de criar luz do nada, de fazer “germinar” planetas inteiros de uns míseros grãos de poeira. Isto claro está, ignorando todas e quaisquer Leis da Física conforme as conhecemos. Impressionante, não é?
            Eu percebo muito pouco de Física. Sempre tive dificuldade em resolver problemas aritméticos e não sei porquê, na escola só me queriam pôr problemas matemáticos à frente sobre forças que eu nem ao menos entendia, quanto mais estar minimamente interessado nos seus efeitos, acções e reacções, etc. O pouco que aprendi realmente, foram umas quantas Leis, entre as quais uma, que não sei porquê, tem-me aparecido no pensamento ocasionalmente. Estranhamente é fácil prever essas ocasiões. Sempre que alguém refere a expressão “Criação de Riqueza”, a Lei de Lavoisier é como um relâmpago em cheio no cérebro. Brusco e luminoso.
            Segundo eu aprendi na escola, não é possível criar nada de coisa alguma. Ou seja, de um “zero” não se pode fazer “um”. Apenas deuses têm essa capacidade e mesmo assim é metaforicamente falando, na melhor das hipóteses. O máximo a que nós, reles mortais, criaturas limitadas que somos, podemos aspirar a, é transformar matéria, redistribui-la ou juntar diferentes matérias resultando em algo novo. Mas no entanto todos os dias ouço alguém falar de “criar riqueza”, leio sobre isso em jornais e revistas. Mau, queres ver que andam deuses misturados entre nós, pessoas com a mística e fabulosa capacidade de transformar “zeros” em “uns” sem adicionar nada aos zeros? Pessoas com o dom da Criação?
            Como orgulhoso ateu convicto, eu desafio qualquer um destes supostos seres celestiais a comparecer à minha frente e executar tão espantosa obra. Mas enfim, os sonhos de um reles mortal como eu, não falam alto que chegue para chegar a tão “celestes” ouvidos e vejo-me sem provas desse acto que é a Criação.
            Eu até já ficava satisfeito se alguém me explicasse o que é “riqueza”. Pelo que eu ouço e leio, riqueza é dinheiro. Criar riqueza então é criar dinheiro. Por esta lógica, os deuses devem viver nas Casas da Moeda por esse mundo fora então! E podemos visitá-los e conhecê-los! Que maravilha! Ou será que riqueza é algo mais do que a quantidade de papel impresso que carregamos na carteira?
            Na visão empresarial riqueza traduz-se em produção. Estabelecer um conceito de produto, bem ou serviço, descobrir como providenciar esse conceito e trazê-lo para a realidade para depois o vender. Em modo grosseiro, deste modo, só existe criação de riqueza, enquanto houver pessoas que não possuem ou utilizam esse produto, bem ou serviço, respectivamente. Mas isto faz sentido sequer? Sou só eu que acho que nenhum conceito é aceitável para todos? Qualquer dia falam de hegemonia e tentam vendê-la! E, se o fizerem, provavelmente há quem queira comprá-la!
            Alguns dirão que “riqueza” é o conjunto dos recursos naturais existentes no nosso planeta. Nem preciso de explicar porque é que esta teoria faz cair por terra, tal e qual castelo de cartas quando alguém bate uma porta perto, toda e qualquer tentativa de criar riqueza. Que eu saiba, não existe actualmente, nada que consiga criar recursos naturais! E não vamos sequer percorrer o tortuoso caminho que levou a que 1% das pessoas mais “ricas” do planeta detenha ou controle mais de 60% dos recursos naturais. Não, não vamos falar de “distribuição de riqueza”.
            Na minha modesta opinião a única riqueza que existe são ideias. Ideias poderão ser, talvez, a única coisa que a nossa limitada (em muitas e variadas formas) espécie consegue criar. A nossa única capacidade “celestial” reside exactamente na criação de pensamentos e em termos o dom da “Palavra” para os partilharmos. Mas até isso tentamos vender. Foi-nos dada a capacidade de pensar e só pensamos em trocar essa capacidade por “bocados de papel impresso”.
            Até quando deixaremos colocar um preço nos nossos pensamentos? A liberdade, a justiça e a igualdade são ideias. E são grátis, vejam só!